Hoje me perdi entre dois poemas.
Um era hermético.
O outro tão aberto,
que me encontrei.
Das disputas
Observei a nuvem.
Vi que ela ia chover.
Apertei o passo e chovi primeiro.
Do resgate
Ao desenterrar aquele poema
exumei minha adolescência.
Me impressionou o seu estado
de conservação.
Dos costumes
Ele usa brinco?
Usa.
De que lado?
Não me lembro.
Você dorme com esse cara todo dia
e não sabe de que lado ele tem o brinco?
Não. De tanto eu ver desapareceu.
Do livre-arbitrio
Escolho meu destino
entre os horóscopos
publicados nos jornais.
Das constações
A vida leva tempo.
Dos diálogo
Você já leu Proust?
Não, mas meu marido lê e me conta.
Depois que ele te contar você me conta?
Combinado, ele disse,
degustando uma madalena.
SOBRE MEIOS DE TRANSPORTE
Acabei de perder o metrô é o pensamento que me vem à cabeça enquanto desço as escadas rolantes da estação e observo o trem desaparecer túnel adentro.
Não é possível perder um metrô.
Avião sim.
Já soube de aviões que desapareceram sem deixar rastros.
Mas o metrô a gente não perde.
Ele simplesmente vai embora.
Do susto
Meu coração bate tão forte
que treme meu corpo inteiro.
Não sei se isso acontece
porque falta corpo ou
porque sobre coração.
Dos verbetes
Luto s.m.
Espaço geográfico entre a perda
e a compreensão
de que não há perda.