De quando a gente se desloca

 

Outro dia  A. me contou uma história que falava do Congo , dos elevadores em Kinshasa nos anos 80. Seu pai, de passagem por ali, acompanhou a implantação do Hotel Intercontinental.  Era a primeira vez que as pessoas do lugar viam um elevador: uma caixa mágica aonde as pessoas entravam em um lugar e saiam em outro. Tinham medo.

Em pleno século XXI, na Espanha, não muito longe de ser África, eu vivi a mesma sensação que os congolenses nos 80. Quando entrei no pássaro de ferro no Brasil e saí em Barcelona deixei muita coisa atrás. Pessoas queridas que partiram sem que eu pudesse chegar a me despedir. Tenho uma relação estranha com os mortos. Quando uma pessoa próxima a mim morre e não chego a tempo de ver o seu corpo vazio de sentido, a imagem dessa pessoa continua me perseguindo pela vida a fora. Por exemplo, hoje eu vi a mãe de uma amiga atravessando a rua e não demorei em perceber que a imagem que eu via já não era matéria e foi aí que me lembrei da história de A. Será que quando a gente morre em lugar de ir pro céu vai para outro país? Um ataúde na realidade não passa de um elevador intercontinental? Uma caixa mágica onde as pessoas entram em um lugar e saem em outro? A eu que saiu dali e desceu aqui é a morta ou a viva?

 

 

 

 

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